COMO CONDUZIR UMA REVISÃO INTEGRATIVA


A Revisão Integrativa é uma das ferramentas mais poderosas disponíveis para estudantes e pesquisadores. Ele fornece um método sistemático para sintetizar diversas pesquisas, construir uma compreensão profunda e abrangente de um fenômeno clínico e fazer uma contribuição significativa para a Prática Baseada em Evidências (PBE). Ao avaliar e integrar rigorosamente o conhecimento existente, a Revisão Integrativa fortalece a produção científica e, sobretudo, amplia as perspectivas para o desenvolvimento do conhecimento em diversas áreas.

O objetivo principal de uma Revisão Integrativa é avaliar o conhecimento que já foi produzido sobre um tópico, respondendo a quatro perguntas críticas:

1. O que se sabe?

2. Qual é a qualidade do que é conhecido?

3. O que deve ser conhecido (ou seja, quais são as lacunas)?

4. Qual é o próximo passo para investigação ou prática?

Embora seja um dos muitos tipos de revisões de literatura, a Revisão Integrativa tem um escopo e metodologia únicos que a diferenciam. Compreender essas diferenças é fundamental para escolher a abordagem certa para seus objetivos de pesquisa. 

Tipo de revisão

Objetivo principal

Metodologias incluídas

Revisão Integrativa

Sintetizar e integrar resultados de diversos estudos (por exemplo, experimentais, não experimentais, teóricos) para fornecer uma compreensão abrangente de um fenômeno.

Combina uma ampla gama de metodologias: experimental, não experimental, empírica e literatura teórica.

Revisão Sistemática

Responder a uma pergunta clínica altamente focada, reunindo, avaliando e sintetizando todas as evidências disponíveis de estudos de pesquisa primária que atendem a critérios rígidos e pré-definidos.

Inclui principalmente estudos experimentais ou observacionais rigorosos, muitas vezes com foco em dados quantitativos para determinar a eficácia de uma intervenção.

Revisão Narrativa

Para fornecer uma visão geral ampla ou resumo de um tópico, geralmente para contextualizar um novo problema de pesquisa. A seleção de estudos geralmente é baseada na experiência do autor e não precisa ser exaustiva.

Qualquer literatura relevante pode ser incluída, e o processo de busca e seleção não precisa ser sistemático ou explícito.

O MÉTODO DE 6 ETAPAS PARA UMA REVISÃO INTEGRATIVA RIGOROSA

Embora diferentes autores possam propor pequenas variações na terminologia ou no número de estágios, o processo para conduzir uma Revisão Integrativa de alta qualidade geralmente segue seis estágios principais e sistemáticos. Aderir a essa estrutura garante a qualidade, transparência e confiabilidade de suas descobertas.

Etapa 1: formular uma pergunta de pesquisa clara - A base da sua avaliação

Uma pergunta de pesquisa clara, específica e bem definida é a parte mais importante de sua revisão. É a base sobre a qual cada passo subsequente é construído, desde sua pesquisa bibliográfica até sua síntese final. Esta é uma fase de planejamento crítica que requer tempo e esforço significativos para acertar, pois a qualidade da sua pergunta determinará o foco e a aplicabilidade de toda a sua revisão.

Introdução às estruturas de perguntas

Para garantir que sua pergunta de pesquisa seja bem estruturada e respondível, é altamente recomendável usar uma estrutura estabelecida. Esses acrônimos ajudam você a definir os principais componentes de sua consulta. A tabela abaixo descreve três das estruturas mais relevantes para a pesquisa em sua área do conhecimento.


Verificação final da sua pergunta

Antes de prosseguir, avalie criticamente sua questão de pesquisa considerando estes quatro critérios:

1. Que teoria ou estrutura conceitual apoia a questão?

2. As revisões anteriores abordaram este tópico? Em caso afirmativo, analise-os criticamente e justifique como sua revisão será diferente ou se baseie neles.

3. Sua pergunta surge de uma análise crítica dos estudos primários existentes e suas descobertas?

4. Ele incorpora seus próprios perspectivas e intuição como pesquisador que está desenvolvendo experiência nesta área?

Com sua pergunta de pesquisa bem formulada servindo como uma bússola, agora você está preparado para navegar pelo vasto corpo de literatura para encontrar as evidências que irão respondê-la.

Etapa 2: estabelecendo sua estratégia de pesquisa

Esta etapa envolve a operacionalização de sua questão de pesquisa em uma pesquisa bibliográfica sistemática e exaustiva. O objetivo é identificar todos os estudos relevantes sobre o seu tópico. Cada procedimento que você segue deve ser documentado com transparência suficiente para que outro pesquisador possa replicar sua pesquisa.

Principais componentes de pesquisa

Uma estratégia de pesquisa robusta é construída em três componentes críticos:

1. Escolha de bancos de dados: Para garantir uma pesquisa abrangente, você deve consultar vários bancos de dados. As bases de dados mais recomendadas para a sua área do conhecimento:

      • MEDLINE (via PubMed);
      • Índice Cumulativo de Literatura de Enfermagem e Saúde Aliada (CINAHL);
      • Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS);
      • SCOPUS;
      • Portal de Periódico Capes;
      • Scielo;
      • Spell;
      • Biblioteca Cochrane;
      • Dentre outras.

2. Definição de descritores: É essencial pesquisar usando palavras-chave gerais e termos de vocabulário controlado. Vocabulários controlados são conjuntos padronizados de termos usados por bancos de dados para indexar artigos por assunto. O uso desses termos controlados é fundamental porque recupera artigos com base em seu assunto principal, não apenas nas palavras específicas que um autor escolheu usar, evitando que você perca estudos relevantes que usam terminologia diferente para o mesmo conceito. Os sistemas primários são:

      • Medical Subject Headings (MeSH) utilizado pelo MEDLINE/PubMed.
      • Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) used by LILACS and other regional databases.

3. Usando operadores booleanos (AND, OR ou NOT): Esses comandos simples permitem que você combine seus termos de pesquisa para ampliar ou restringir os resultados da pesquisa.

      • AND Restringe a pesquisa. Ele recupera apenas artigos que contêm todos os termos especificados. (por exemplo, AND Patient Safety AND Nursing Education);
      • OR amplia a pesquisa. Ele recupera artigos que contêm pelo menos um dos termos especificados. Isso é útil para sinônimos. (por exemplo, OR Pain Management OR Analgesia);
      • NOT exclui termos. Ele recupera artigos que contêm o primeiro termo, mas não o segundo. Use esse operador com cuidado, pois ele pode remover inadvertidamente artigos relevantes. (por exemplo, NOT Diabetes NOT Gestational).

DICA: Faça parceria com um bibliotecário. Antes de fazer suas pesquisas, agende uma consulta com um bibliotecário. Eles são pesquisadores especializados que podem ajudá-lo a refinar suas palavras-chave, identificar o vocabulário controlado correto (MeSH/DeCS) para o seu tópico e construir strings (combinações de descritores) de pesquisa sofisticadas usando operadores booleanos. Essa parceria é uma das maneiras mais eficazes de garantir que sua pesquisa seja realmente abrangente.

4. Definindo critérios de inclusão e exclusão

Antes de começar a triagem de artigos, você deve estabelecer critérios claros e objetivos que definam quais estudos serão incluídos ou excluídos de sua revisão. Esses critérios devem ser explicitamente definidos e aplicados de forma consistente a todos os artigos que você encontrar.

Exemplos de critérios de inclusão:

      • Idioma de publicação (por exemplo, inglês, português, espanhol);
      • Intervalo de datas de publicação (por exemplo, artigos publicados nos últimos 10 anos);
      • Tipo de artigo (por exemplo, apenas artigos de pesquisa primária);
      • Disponibilidade de texto completo.

Exemplos de critérios de exclusão:

      • Tipo de artigo (por exemplo, editoriais, cartas ao editor, outros artigos de revisão);
      • Estudos que não estão disponíveis em texto completo;
      • Estudos cuja metodologia não permite responder à questão de pesquisa.

Esses critérios devem ser claramente descritos na seção de métodos do seu relatório final para garantir que sua revisão seja transparente e reprodutível.

Com sua amostra final de artigos rigorosamente selecionada em mãos, o foco agora muda de encontrar as evidências para desconstruí-las sistematicamente . A próxima etapa é extrair meticulosamente as principais informações de cada estudo para criar o conjunto de dados brutos para sua análise.

Etapa 3: Extraindo e categorizando os dados

Organizando suas descobertas

Depois de aplicar seus critérios de inclusão e exclusão para selecionar a amostra final de artigos, o próximo passo é organizar e resumir as principais informações de cada estudo de forma estruturada. Esse processo cria um banco de dados que permite comparar facilmente os achados, variáveis e características da amostra em diferentes estudos, o que será essencial para as etapas de análise e síntese. 

Criando um instrumento de extração de dados

Para garantir a consistência, você deve criar um formulário ou tabela padronizado - geralmente chamado de instrumento de extração de dados - para extrair exatamente as mesmas informações importantes de cada estudo selecionado. Isso evita que você perca detalhes importantes e facilita o gerenciamento dos dados.

DICA: pilote seu instrumento. Antes de extrair dados de toda a amostra, teste o formulário de extração de dados em 2 a 3 dos artigos incluídos. Este "teste piloto" revelará rapidamente se o seu formulário está faltando algum campo fundamental ou se suas categorias não estão claras. Refinar o instrumento antecipadamente economizará horas de retrabalho mais tarde e garantirá que sua coleta de dados seja consistente.

Pontos de dados essenciais

Com base em instrumentos validados usados em pesquisas da sua área, seu formulário de extração de dados deve capturar as seguintes categorias essenciais de informações para cada artigo:

  • Detalhes da publicação: Inclua o título do artigo, todos os autores, o nome do periódico, o ano de publicação e o país onde o estudo foi realizado;
  • Objetivos do estudo: Indique claramente a questão de pesquisa, hipótese ou objetivo principal do estudo;
  • Metodologia: Descreva o desenho do estudo (por exemplo, ensaio clínico randomizado, estudo de caso qualitativo, pesquisa não experimental), bem como o tamanho da amostra e as principais características dos participantes;
  • Principais descobertas/resultados: Resuma os principais resultados e dados relatados no estudo;
  • Conclusões e recomendações do autor: documente as conclusões tiradas pelos autores do estudo e quaisquer recomendações que eles fizeram para a prática ou pesquisas futuras;
  • Nível de evidência: inclua uma classificação do rigor metodológico do estudo, que você determinará na próxima etapa.

Com seus dados agora extraídos em um formato estruturado, você tem uma visão geral clara do conteúdo de cada estudo. No entanto, antes de sintetizar essas descobertas, você deve avaliar criticamente a qualidade metodológica de cada fonte para determinar a força das evidências coletadas.

Etapa 4: Realizando uma análise crítica dos estudos incluídos

Avaliação da qualidade e rigor

Essa etapa envolve a avaliação crítica da qualidade metodológica de cada estudo incluído. Não basta simplesmente extrair dados; Você também deve avaliar a força e a confiabilidade das evidências apresentadas. Essa análise é fundamental para entender quanta confiança você pode depositar nos resultados de cada estudo e, por extensão, nas conclusões gerais de sua revisão.

O método do revisor emparelhado

Para garantir a objetividade e reduzir o risco de viés individual, a análise crítica deve ser conduzida de forma independente por pelo menos dois pesquisadores. Depois que cada pesquisador avaliar os estudos, eles devem se reunir para comparar suas descobertas, discutir quaisquer discrepâncias e chegar a um consenso. Esse processo é fundamental para garantir a objetividade, pois obriga os pesquisadores a justificarem suas avaliações e mitiga o risco de a interpretação de um único indivíduo, consciente ou inconsciente, distorcer os resultados.

Ferramentas para avaliação crítica

Existem listas de verificação e protocolos padronizados para orientar a avaliação crítica de diferentes tipos de pesquisa. O uso dessas ferramentas ajuda a garantir que sua avaliação seja sistemática e abrangente. A ferramenta apropriada depende do desenho do estudo.

Desenho do estudo

Protocolo de Avaliação Recomendado

Ensaios clínicos randomizados

CONSORTE

Estudos observacionais (por exemplo, coorte, caso-controle)

STROBE

Revisões Sistemáticas

PRISMA

Pesquisa Qualitativa

SRQR & COREQ

Determinando o nível de evidência

A análise crítica permite classificar cada estudo de acordo com uma hierarquia de evidências. Essa hierarquia, muitas vezes visualizada como uma pirâmide, classifica os projetos de estudo com base em sua capacidade de minimizar o viés. Revisões sistemáticas e meta-análises são normalmente colocadas no topo da pirâmide, representando o mais alto nível de evidência.

Tendo avaliado criticamente o rigor metodológico de cada estudo, você agora entende a força relativa de cada evidência. Isso prepara você para a parte mais intelectualmente exigente da revisão: sintetizar essas descobertas individuais em uma compreensão nova e integrada do tópico. 

Etapa 5: Sintetizando e interpretando os resultados

Da análise à síntese

Esta etapa é o núcleo intelectual da Revisão Integrativa. Seu objetivo não é simplesmente resumir o que cada estudo encontrou, mas integrar as diversas descobertas em um todo novo e coerente. Isso envolve comparar os resultados entre os estudos, identificar padrões e temas, discutir dados conflitantes e tirar conclusões abrangentes que vão além do que qualquer estudo poderia fornecer. 

O processo de síntese

O processo de síntese envolve várias atividades-chave. Ao revisar seus dados extraídos, você deve:

1. Procure padrões e temas: Agrupe descobertas semelhantes de diferentes estudos em categorias ou temas significativos. Isso permite que você veja o quadro geral emergindo da literatura;

2. Faça comparações e contrastes: Observe sistematicamente onde diferentes estudos concordam e onde suas descobertas entram em conflito. Tente explicar possíveis razões para quaisquer discrepâncias, como diferenças nas populações de estudo, configurações ou metodologias;

3. Identifique lacunas na literatura: Com base em sua síntese do que é conhecido, determine o que permanece desconhecido. Que perguntas não foram respondidas? Quais populações não foram estudadas? Essas são as lacunas na pesquisa existente;

4. Discuta as implicações para a prática: Conecte suas descobertas sintetizadas de volta ao mundo real. O que esses resultados significam para o avanço da ciência, para a formulação de políticas públicas e para a aplicação prática do conhecimento na área de...?

5. Sugira pesquisas futuras: Use as lacunas identificadas para propor recomendações específicas e acionáveis para pesquisas futuras. Que novos estudos são necessários para avançar no campo?

Este trabalho intelectual de síntese prepara você para a etapa final e mais visível: apresentar sua Revisão Integrativa completa em um relatório formal.

Etapa 6: Apresentando a Revisão Integrativa

Comunicando seu trabalho 

A etapa final é comunicar suas descobertas em um relatório formal por escrito. Este documento deve ser claro, detalhado, objetivo e transparente, permitindo que qualquer leitor compreenda e avalie todo o processo que empreendeu. O relatório final é o culminar do seu trabalho e deve refletir o rigor científico que você aplicou em todas as etapas.

Como princípio orientador, lembre-se de que o relatório final "não deve ser apresentado como uma série de resumos ou resumos, mas contemplar a integração de conceitos, pensamentos, definições ou outras informações relevantes". O foco deve estar no conhecimento novo e integrado que você criou. 

Estrutura do relatório final 

Para garantir a transparência e a clareza metodológicas, o relatório final deve incluir as seguintes secções essenciais:

  • Introdução: Indique o problema clínico ou teórico que motivou a revisão. Apresente claramente sua pergunta de pesquisa e explique a relevância da revisão para a área do conhecimento;
  • Métodos: Detalhe cada etapa do seu processo com precisão. Isso inclui sua estratégia de pesquisa completa, os bancos de dados e palavras-chave usados, seus critérios de inclusão e exclusão predefinidos e os métodos usados para extração de dados, avaliação crítica e síntese;
  • Resultados: Apresente os resultados de sua revisão. Use tabelas para resumir claramente as características de todos os estudos incluídos (por exemplo, autor, ano, desenho, amostra, principais achados). É altamente recomendável incluir um fluxograma (como um diagrama PRISMA) para ilustrar visualmente todo o processo de seleção dos estudos, desde o número inicial de artigos encontrados até a amostra final incluída na revisão;
  • Discussão: É aqui que você apresenta sua síntese. Interprete os resultados, discuta os padrões e temas que você identificou e compare suas descobertas integradas com o conhecimento existente. Fundamentalmente, você deve discutir as implicações de sua revisão para a prática, política ou teoria da sua área de estudo;
  • Conclusão: Resuma brevemente as principais conclusões de sua revisão. Declare honestamente as limitações do seu trabalho (por exemplo, potencial para estudos perdidos, idiomas excluídos). Por fim, forneça recomendações claras e específicas para pesquisas futuras e prática clínica com base nas evidências que você sintetizou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização de uma Revisão Integrativa rigorosa é um processo exigente que requer planejamento cuidadoso, execução meticulosa e pensamento crítico. No entanto, também é um empreendimento altamente gratificante. Seguindo essas etapas sistemáticas, estudantes e pesquisadores podem produzir uma revisão de alta qualidade que não apenas sintetiza o conhecimento existente, mas também gera novas perspectivas.

REFERÊNCIAS

CROSSETTI, Maria da Graça Oliveira. Revisão integrativa de pesquisa na enfermagem o rigor cientifico que lhe é exigido. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre (RS), v. 33, n. 2, p. 8-9, jun. 2012.

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SOUSA, Luís Manuel Mota et al. A metodologia de revisão integrativa da literatura em enfermagem. Revista Pesquisa em Enfermagem, v. 2, n. 21, p. 17-26, 2017.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA (UNESP). Biblioteca do Campus de Botucatu. Tipos de revisão de literatura. Botucatu: Unesp, 2015.

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